Medicina medieval
- Para medicina contemporânea praticada fora da Europa Ocidental, veja Medicina Islâmica, Medicina Bizantina, Medicina Tradicional Chinesa, e Ayurveda.
Resumo:
A Medicina medieval na Europa Ocidental era uma mistura de idéias existentes desde a antiguidade, influências espirituais e o aquilo que Claude Lévi-Strauss identificou como "complexo xamanístico" e "consenso social."[1] Naquela época, não havia a tradição da medicina científica e as observações andavam lado a lado com influências espirituais.
No começo da Idade Média, após a queda do Império Romano, o conhecimento médico padrão era baseado principalmente em textos antigos da Grécia e de Roma, preservados em mosteiros e em outros locais.[2] Os conceitos sobre a origem e a cura das doenças não estavam separadas do espiritualismo. Estavam, sim, baseadas numa visão de mundo na qual fatores como destino, pecado e astrologia atuavam em grande parte como qualquer causa física. Ao invés da evidência empírica, as crenças do paciente e do médico estavam tão atrelados à eficácia da cura que frequentemente o rémédio físico ficava subordinado à intervenção espiritual.
Índice
1 Desenvolvimento
2 Influências
2.1 Medicina Hipocrática
2.2 O Sistema Medieval
3 Referências
Desenvolvimento |
No início do período, não havia uma orientação médica única e organizada. Se uma pessoa adoecesse devido a um trauma ou doença poderia buscar tratamento no curandeirismo, num benzedor, na astrologia, através de encantamentos e misticismo ou finalmente procurar um médico consagrado, se houvesse um disponível. Além disso, as fronteiras que separavam essas ocupações eram tênues e móveis. Textos médicos clássicos, tais como aqueles de Galeno eram amplamente usados (mais com base em sua autoridade e tradição do que baseados em confirmação experimental).
Conforme o Cristianismo crescia em influência, se desenvolvia uma tensão entre a igreja e o curandeirismo devido ao seu aspecto mágico ou místico e à sua base em fontes que não eram compatíveis com a fé cristã. Encantamentos e simpatias que eram utilizados em conjunto com ervas e outros remédios deveriam ser substituídos por rezas cristãs. E mesmo o poder das ervas e a necessidade do uso de cristais deveriam ser explicadas através do Cristianismo.
A Igreja pensava que Deus às vezes enviava doenças como forma de punição e, nesses casos, o arrependimento poderia levar à cura. Isso levava à prática de penitência e peregrinação como meios de curar doenças. Na Idade Média, não se considerava a Medicina como uma profissão adequada para os cristãos, mesmo porque as doenças eram consideradas dádivas divinas. Deus era considerado o "médico divino" que enviava doenças ou curas conforme sua vontade. Entretanto, muitas ordens monásticas, particularmente os Beneditinos, consideravam o cuidado com os doentes como sua forma principal de trabalho.
A medicina medieval européia se tornou mais desenvolvida no Renascimento quando inúmeros textos médicos árabes sobre medicina antiga grega e medicina islâmica foram traduzidos para o Latim. Os mais influentes entre esses textos era o Cânone da Medicina de Avicena, uma enciclopédia médica escrita por volta de 1030 o qual resumia a medicina dos Gregos, a Indiana e a Muçulmana até aquele momento. O Cânone se tornou um texto de autoridade na educação médica européia até o início da Idade Moderna. Outros textos médicos traduzidos naquela época incluíam o Corpo Hipocrático atribuído a Hipócrates, Alcindo, De Gradibus o Liber Pantegni de Haly Abbas e Isaac ben Solomon, Abulcasis, Al-Tasrif e os escritos de Galeno.
Influências |
Medicina Hipocrática |
Ver artigo principal: Medicina da Grécia Antiga
A tradição médica ocidental frequentemente tem suas raízes diretamente ligadas à Antiga Civilização Grega, assim como a fundação de todo o Mundo Ocidental. O gregos certamente definiram a fundação da medicina ocidental, mas muito mais dela pode ser traçado até o Oriente Médio, os Germanos, e os Celtas. A fundação da medicina pelos gregos vem de uma coleção de escrituras conhecidas hoje como Corpus Hippocraticum.[3] Resquícios do Corpus Hippocraticum sobrevivem na medicina moderna tanto na forma do “Juramento Hipocrático” como no “Princípio da não-maleficência[4]”.
O Corpus Hippocraticum, popularmente atribuído ao médico da Grécia Antiga conhecido como Hipócrates, exibe a abordagem básica aos cuidados médicos. Filósofos gregos viam o corpo humano como um sistema que reflete o trabalho da natureza e Hipócrates aplicou essa crença à medicina. O corpo, como um reflexo das forças naturais, continha quatro propriedades elementares expressadas pelos gregos como os Quatro Humores. Os humores representavam o fogo, o ar, a terra e a água através das propriedades de quente, frio, seco e úmido, respectivamente.[5] A saúde no corpo humano baseava-se em manter esses humores balanceados dentro de cada pessoa.
Manter o equilíbrio dos humores dentro de cada paciente ocorria de várias maneiras. Um exame inicial era padrão para um médico analisá-lo devidamente. O clima da casa do paciente, sua dieta usual, e mapas astrológicos eram levados em conta durante a consulta. Os céus influenciavam todas as pessoas de maneiras diferentes através de sua ação nos elementos conectados a certos humores, informação importante para determinar o diagnóstico. O médico poderia determinar qual humor estava desequilibrado no paciente e prescrever uma nova dieta para restaurar esse equilíbrio.[6] Uma dieta não apenas incluía comidas para comer ou evitar, mas também um regimento de exercícios e medicações.
A medicina hipocrática representou uma prática médica aprendida a partir da criação do Corpus Hippocraticum e, portanto, requerendo a alfabetização dos praticantes.[7] Os tratados escritos a cerca do Corpus são variados, incorporando doutrinas médicas de qualquer fonte com a qual os gregos entraram em contato. Em Alexandria no Egito, os gregos aprenderam a arte da cirurgia e dissecação; a habilidade egípcia nessas áreas ultrapassaram a dos gregos e dos romanos devido à tabus sociais no tratamento de mortos.[8] Um dos primeiros praticantes hipocráticos, Herófilo, engajou-se na dissecação e adicionou novos conhecimentos da anatomia humana a respeito do sistema nervoso, os trabalhos internos do olho, a diferenciação entre artérias e veias e a utilização do pulso como uma ferramenta de diagnóstico no tratamento.[9] A cirurgia e dissecação trouxeram muito conhecimento sobre o corpo humano que médicos hipocráticos empregaram juntamente com seus métodos de balanceamento de humores nos pacientes. A combinação do conhecimento em dietas, cirurgia e medicações formou os fundamentos do aprendizado médico, sobre o qual Cláudio Galeno iria mais tarde contribuir grandemente.
O Sistema Medieval |
Iniciando-se nas áreas afetadas por último pela queda do Império Romano do Ocidente, uma teoria médica unificada começa a se desenvolver, baseada grandemente nos escritos dos médicos Gregos sobre Fisiologia, Higiene, Dieta, Patologia e Farmacologia e acreditada devido a descoberta de como a coluna vertebral controla os músculos. Através de dissecções eles descreveram as valvas do coração e determinaram a função da bexiga e dos rins.
Galeno de Pergamum, também um Grego, era o mais importante médico de sua época e ficou atrás apenas de Hipócrates na história da medicina da antiguidade. Em vista de autoridade incontestável sobre a medicina da Idade Média, suas principais doutrinas requeriam alguma elaboração. Galeno descreveu os quatro sintomas clássicos da inflamação (rubor, dor, calor e edema) e acrescentou muito ao conhecimento das doenças infecciosas e da farmacologia. Entretanto, seu conhecimento da anatomia humana era deficiente porque era baseado na dissecação de porcos. Alguns de seus ensinamentos frearam o progresso da medicina medieval. Sua teoria, por exemplo, de que o sangue carregaria o 'pneuma', ou o espírito da vida, responsável pela sua cor vermelha, conjugada à noção errônea de de que o sangue passaria através de uma parede porosa entre os ventrículos do coração, atrasou o entendimento da circulação sanguínea e desencorajou muito a pesquisa em Fisiologia. Seu trabalho mais importante, no entanto, foi no campo da forma e função dos músculos a a função das áreas da coluna vertebral. Ele também se destacou no campo do diagnóstico e do prognóstico. A importância do trabalho de Galeno não pode ser superestimada, já que seus conhecimentos de medicina grega foram transmitidos ao mundo ocidental pelos Árabes.
Traduções para a língua Anglo-Saxã dos trabalhos clássicos como Ervas de Dioscorides sobreviveram desde o século X, mostrando a persistência de elementos do conhecimento médico clássico. Compêndios como o Livro de Bald, citam uma variedade de trabalhos clássicos sobre remédios caseiros.
Referências
↑ Anthropologie structurale, Lévi-Strauss, Claude (1958, Structural Anthropology, trans. Claire Jacobson and Brooke Grundfest Schoepf, 1963)
↑ «The Progress of Ancient Medicine: Medieval Medicine». Consultado em 28 de julho de 2009. Arquivado do original em 26 de abril de 2009
↑ Lawrence Conrad, Michael Neve, Vivian Nutton, Roy Porter, Andrew Wear. The Western Medical Tradition 800 BC to AD 1800. Conferência da Universidade de Cambridge, Nova York, 1995, p16-17
↑ Nutton, The Western Medical Tradition, p19
↑ Nutton, The Western Medical Tradition, p25
↑ Nutton, The Western Medical Tradition, p23-25
↑ Lindberg, David C. The Beginnings of Western Science: The European Scientific Tradition in Philosophical, Religious, and Institutional Context, Prehistory to A.D. 1450. Conferência da Universidade de Chicago e Londres, 2007, p118
↑ Lindberg, The Beginnings of Western Science, p119
↑ Lindberg, The Beginnings of Western Science, p120