Sílaba
Sílaba é uma emissão de voz completa, representada por um ou mais fonemas.[1]
Índice
1 Número de sílabas
2 Divisão silábica
3 Sílaba tônica
4 Estrutura interna
5 Poesia
6 Características diversas
7 Referências
8 Bibliografia
9 Ver também
Número de sílabas |
As sílabas, agrupadas, formam vocábulos. De acordo com o número de sílabas que os formam, os vocábulos podem ser:
- monossílabos - formados por uma única sílaba: é, há, ás, cá, mar, flor, quem, quão.
- dissílabos - apresentam duas sílabas: vi-ver, de-ver, cla-ro, com-por.
- trissílabos - apresentam três sílabas: ca-ma-da, O-da-ir, pers-pi-caz, tungs-tê-nio, felds-pa-to,ca- va-lo
- polissílabos - apresentam quatro ou mais sílabas: bra-si-lei-ro, a-me-ri-ca-no, mo-nos-si-la-bo,dis-si-la-bo, psi-co-lo-gi-a, con-se-quên-cia
Na língua portuguesa, o número de sílabas de uma palavra corresponde ao número de vogais completas.[1]
Divisão silábica |
Divisão silábica é uma forma de descobrir como a palavra é dividida. A divisão silábica obedece a algumas regras básicas. O conhecimento das regras de divisão silábica é útil para a translineação das palavras, ou seja, para separá-las no final das linhas e também para se realizar a correta acentuação da sílaba tônica. Quando houver necessidade da divisão, ela deve ser feita de acordo com as regras abaixo. Por motivos estéticos e de clareza, devem-se evitar vogais isoladas no final ou no início de linhas, como a-sa ou Urugua-i.
ditongos e tritongos pertencem a uma única sílaba: au-tô-no-mo, ou-to-no, di-nhei-ro, U-ru-guai, i-guais.- os hiatos são separados em duas sílabas: du-e-to, pro-i-bi-do, ca-a-tin-ga.
- os dígrafos ch, lh, nh, gu e qu pertencem a uma única sílaba: chu-va, mo-lha, es-ta-nho, guel-ra, a-que-la.
- as letras que formam os dígrafos rr, ss, sc, sç, xs, e xc devem ser separadas: bar-ro, as-sun-to, des-cer, nas-ço,ex-su-dar, ex-ce-to.
- os encontros consonantais que ocorrem em sílabas internas devem ser separados, excetuando-se aquelas em que a segunda consoante é l ou r: con-vic-ção, a-pli-ca-ção, as-tu-to, a-pre-sen-tar, ap-to, a-brir, cír-cu-lo, re-tra-to, ad-mi-tir, de-ca-tlo, ob-tu-rar. Exceção: ab-rup-to. Os grupos consonantais que iniciam palavras não são separáveis: gnós-ti-co, pneu-má-ti-co, mne-mô-ni-co.
Sílaba tônica |
Na língua portuguesa, o acento tônico recai mais frequentemente na penúltima sílaba,[2] mas pode também cair na última ou na antepenúltima sílaba,[3] e jamais situa-se em outra posição além destas.[4] Em esperanto, ele sempre recai sobre a penúltima sílaba,[5] e no aramaico bíblico, ele recai mais frequentemente na última sílaba.[6] No aramaico, como em outras línguas semíticas, as sílabas começam por consoantes, seguidas de pelo menos um som vocálico, e podem terminar com uma vogal (sílaba aberta) ou com uma consoante (sílaba fechada).[7]
As sílabas que não recebem acento tônico são chamadas de átonas.[8] Na língua portuguesa, excluídas a tônica e a subtônica de uma palavra, suas demais sílabas são sempre átonas.[9] A tonicidade das sílabas finais de palavras tem influência em sua variação fonética. No português brasileiro, os ditongos nasais de sílabas finais átonas estão sujeitos a variações fonéticas por redução da nasalidade (cantaram/cantaru), o que parece ser condicionado linguística e socialmente.[10]
Na gramática, as palavras podem ser classificadas segundo a posição da sílaba tônica. Assim, elas são agudas, graves ou esdrúxulas. Em alternativa, podem ser chamadas oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, respectivamente. No Brasil, os segundos termos são os mais usados. Em Portugal, depende do contexto.
Estrutura interna |
Embora Chomsky & Halle (1968) tenham tratado da estrutura da sílaba em The Sound Partner Of English, foi somente com trabalhos mais atuais de Selkirk (1982), Goldsmith (1990), Blevins (1995), Hayes (1995) e Spencer (1996), que a estrutura da sílaba ganhou lugar de destaque nos estudos fonológicos. Apesar de esses autores possuírem divergências metodológicas, todos reconhecem a importância da sílaba no quadro teórico linguístico.
Sob essas perspectivas, a organização interna da sílaba obedece a parâmetros específicas de cada língua, ou seja, de acordo com a teoria de Chomsky de Princípios e Parâmetros (P&P) da Gramática Universal (GU), uma sílaba pode ter três elementos: ataque, núcleo e coda, e em cada língua, sua gramática define que segmento pode ocupar cada posição na estrutura da sílaba, além de estabelecer parâmetros, pelos quais, por exemplo, o ataque pode ser obrigatório e a coda, opcional.
As sílabas seguem alguns princípios organizacionais regidos por regras fonotáticas que permitem arranjos, sequencias adjacentes e hierarquicamente organizadas.
Conforme a teoria fonológica não-linear, a sílaba é composta de onset ou ataque; rima, onde estão localizados o núcleo e a coda, o que se pode comparar com o modelo de Mattoso Câmara no qual o ataque equivaleria à intensificação, a núcleo seria o ápice e a coda seria a redução:
BLEVINS (2006) detalha as partes que compõem a estrutura da sílaba perpassando por conceitos que esclarecem o comportamento dessas sílabas em cada língua específica:
1 – Silabas leves e pesadas
Em português, assim como em outras línguas, as sílabas podem ser classificadas como leves e pesadas:
Sílabas leves: CV, V, VC – quando não há ramificação do núcleo, ou como na teoria moraica, a sílaba é monomoraica.
Sílabas pesadas: CVV, CCVC, CCV, CVC, CCVCC,CCVVC, CVVV – quando há ramificação do núcleo, a sílaba é bimoraica.
2 – visão geral da tipologia silábica do português
A língua portuguesa é uma língua de onset simples e complexo opcionais, núcleo simples obrigatório e complexo opcional e coda simples opcional.
Na estrutura da sílaba em português o ataque podem ocorrer todas os segmentos consonantais, exceto os de interface ortográfica <h> e o <lh>, o qual ocorre apenas em ataque de sílaba interna. O núcleo é sempre ocupado por segmentos vocálicos ou a parte vocálica de um glaide. Na coda, só podem ocorrer os arquifonemas /S/, /N/ e as líquidas/ l / e / r /.
Exemplo casas:
3 – O argumento de Mattoso Câmara para o onset complexo e a coda em português.
Para Mattoso, fonologicamente, ocorrem dois tipos de segmentos consonantais na segunda posição do onset complexo / r / e / l / (C2 – plural, drama) e quatro tipos de segmentos na posição de coda, quais sejam: os arquifonemas /S /(as várias fricativas referentes às variedades regionais para o último s de casas, /R / (os variados tipos de r referentes também às variedades regionais do português, a líquida /l / ~ /w / - /W / (maldade, falsidade, papel, chapéu) e o segmento mais problemático , /N / (perspectiva, superstição, consciente, piscina)
O arquifonema /N /, segundo Mattoso tem de fazer parte do grupo de segmentos que ocupam a coda, embora esse segmento nem seja representado foneticamente, fonologicamente a nasalidade contrastiva está subjacente e os vários indícios confirmam isso.
1 – Na gênese da nasalidade em português as vogais nasais surgem como variantes das vogais orais:
a) Consoante nasal antes de vocgal CnV - mater > mãe
b) Consoante nasal depois de vogal VCn - campo [kãpu]
c) Consoante nasal em fronteira de sílaba V.Cn – lana > lã
Nas exceções, luna >lua, persona > pessoa, bonna > boa, Mattoso argumenta que embora exista uma nasal subjacente, as vogais são diferentes, por isso não nasalizam.
Para esse autor há dois tipos de nasalidade em português:a fonética ou alofnônica e a constrastiva. Para o argumento do arquifonema , /N/ na coda, o que vai interessar será a nasalidade constrativa ou fonêmica, aquela em que há distinção de significado, por exemplo:
cato – canto; lá – lã; capo – campo; mudo – mundo.
Para Mattoso a representação da nasalidade fonêmica desse segmento é bimorfêmica:
lã - /laN/
1 - Ela perpassa pelo argumento da distribuição dos r:
a) em posição intervocálica há oposição entre tepe e vibrante: caro - carro
b) entre vogal oral e nasal nunca aparece um tepe, só o r múltiplo forte: tenra, honra. O tepe não aparece porque não é uma vogal nasal e sim uma vogal seguida de uma consoante nasal.
c) o tepe sempre aparece entre vogais, nunca em coda.
2 – Argumento da impossibilidade de hiato entre vogais orais e nasais:
boa < bona
bom < boa
*bõa
valentão
valentona
Ou cai a nasal e leva junto a nasalidade ou se introduz uma consoante nasal.
3 – Impossibilidade de crase entre vogal oral e nasal, sândi externo
A postônica final da primeira palavra se junta com a pretônica inicial da segunda palavra, pois ambas são orais (casa azul)
O mesmo não ocorre com (lã azul), pois há uma consoante nasal subjacente na palavra lã A postônica final da primeira palavra se junta com a pretônica inicial da segunda palavra.
A postônica final da primeira palavra se junta com a pretônica inicial da segunda palavra /laN /
4 – Argumento das proparoxítonas
Travamento silábico puxa o acento para si, em português não existe proparoxítona se a penúltima sílaba for travada ou pesada, como a nasalidade funciona como uma sílaba pesada o acento vai recair nessa sílaba:
Flamengo – penúltima sílaba pesada
plácido - penúltima sílaba leve
Com base nesses argumentos, sempre que houver uma consoante nasal na coda, o arquifonema nasal deve ser representado. Esses argumentos justificam a configuração abaixo da estrutura silábica do português:
V - é
CV - casa
VC - arte
CVV - Paulo
CCVC - brando
CCV - plano
CVC - turma
CCVCC - transtorno
CCVVC – claustro
CVVC - caimbra
CVVV – Uruguai
Poesia |
No poema, a sílaba tônica é a sílaba de mais ênfase, a que se pronuncia mais forte, utilizada para classificar a métrica dos versos.
Características diversas |
Quanto à decomposição silábica das palavras, a sílaba é, na maioria dos casos, iniciada por uma consoante (se existir), terminando numa vogal. Na língua portuguesa existem, contudo, casos excepcionais:
- Emperrado = Em + per + ra + do
No caso acima, os R não ficaram unidos quando da separação das sílabas. A mesma regra se aplica para a letra S, quando dobrada.
Referências
↑ ab Ledur 2006, p. 23.
↑ Bisol 2005, p. 69.
↑ Abreu 2003, p. 58.
↑ Ledur 2006, p. 31.
↑ Dubois 2001, p. 71.
↑ Araújo 2008, p. 44.
↑ Araújo 2008, p. 42-43.
↑ Dubois 2001, p. 78.
↑ Ledur 2006, p. 30.
↑ Bisol 2009, p. 13.
Bibliografia |
Abreu, Antônio Suárez (2003). Gramática Mínima para o Domínio da Língua Padrão 2 ed. [S.l.]: Atelie Editorial. 356 páginas. ISBN 9788574801988
Araújo, Reginaldo Gomes de (2008). Gramática do Aramaico Bíblico. [S.l.]: EdiçõesTargumim. 367 páginas. ISBN 9788599459010
Bisol, Leda (2005). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro 4 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS. 296 páginas. ISBN 9788574305295
Bisol, Leda (org.); Collischonn, Gisela (org.) (2009). Português do sul do Brasil : variação fonológica 1 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS. ISBN 9788574308883 A referência emprega parâmetros obsoletos|coautores=
(ajuda)
Dubois, Jean (2001). Dicionário de Linguística 8 ed. [S.l.]: Cultrix. 653 páginas. ISBN 9788531601231
Figueiredo, Adriana; Figueiredo, Fernando (2012). Gramática Comentada com Interpretação de Textos, 2a Edição: Teoria Completa e Questões Comentadas. [S.l.]: Elsevier Brasil. 532 páginas. ISBN 9788535256826 A referência emprega parâmetros obsoletos|coautores=
(ajuda)
- GOLDSMITH, John A. The handbook of phonological theory. Blackwell,1995.
Ledur, Paulo Flávio (2006). Português Prático 7 ed. [S.l.]: Editora AGE Ltda. 223 páginas. ISBN 9788574972848
- MATTOSO CÂMARA, Joaquim. A estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2004.
Ver também |
- Wikcionário
- Alfabeto fonético
- Articulação
- Entonação
- Fonoaudiologia
- Gramática
- Glide
- Modulação
- Pronúncia
- Prosódia
- Sotaque
- Tonicidade