Império Otomano
دولتِ عَليه عُثمانيه (Devlet-i Aliye-i Osmaniye) Império Otomano | |||||
Império | |||||
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Lema nacional دولت ابد مدت (Devlet-i Ebed-müddet) (pt: "O Estado Eterno") | |||||
Expansão do Império Otomano até 1683 | |||||
Continente | Eurafrásia | ||||
Região | Oriente Médio, África Setentrional e Bálcãs | ||||
Capital |
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Língua oficial | Turco-otomano | ||||
Governo | Monarquia absoluta (1299–1876) (1878–1908) (1920–1922) Monarquia constitucional | ||||
Sultões da Dinastia Otomana | |||||
• 1299–1326 | Osmã I (primeiro) | ||||
• 1918–1922 | Mehmed VI (último) | ||||
Califa | |||||
• 1517–1520 | Selim I (primeiro)[nota 1] | ||||
• 1922–1924 | Abdul Mejide II (último) | ||||
Grão-Vizir | |||||
• 1320–1331 | Aladim Paxá (primeiro) | ||||
• 1919–1919 | Damade Feride Paxá | ||||
• 1920–1920 | Damade Feride Paxá | ||||
• 1920–1922 | Amade Teufique Paxá (último) | ||||
História | |||||
• 1299 | Fundado | ||||
• 1402–1414 | Interregno | ||||
• 1453 | Transformação em Império | ||||
• 1876–1878 | 1ª Era Constitucional | ||||
• 1908–1920 | 2ª Era Constitucional | ||||
• 23 de Janeiro de 1913 | Ataque a Sublime Porta | ||||
• 1 de Novembro de 1922 | Abolição do Sultanato Otomano | ||||
• 24 de Julho de 1923 | Tratado de Lausanne | ||||
• 3 de Março de 1924 | Abolição do Califado Otomano | ||||
População | |||||
• 1856 est. | 35 350 000 | ||||
• 1912 est. | 24 000 000 | ||||
Moeda | Akçe, Kuruş, Lira turca | ||||
Gentílico: turco/a; otomano/a |
Império Otomano (em turco otomano: دَوْلَتِ عَلِيّهٔ عُثمَانِیّه; transl.: Devlet-i ʿAliyye-yi ʿOsmâniyye ou عثمانلى دولتى; Osmanlı Devleti; em turco moderno: Osmanlı Devleti ou Osmanlı İmparatorluğu) também conhecido como Império Turco[1] ou Turquia Otomana,[2][3] foi um império fundado no fim do século XIII no noroeste da Anatólia na vizinhança de Bilecik e de Söğüt pelo líder tribal oguz Osmã I.[4] Depois de 1354, os otomanos cruzaram para a Europa, e com a conquista dos Bálcãs o Beilhique Otomano foi transformado em um império transcontinental. Os otomanos acabaram com o Império Bizantino com a conquista de Constantinopla em 1453 por Maomé, o Conquistador.[5]
Durante os séculos XVI e XVII, no auge de seu poder sob o reinado de Solimão, o Magnífico, o Império Otomano era um império multinacional e multilíngue que controlava grande parte do Sudeste da Europa, da Ásia Ocidental, do Cáucaso, do Norte de África e do Chifre da África.[6] No início do século XVII, o império continha 32 províncias e numerosos estados vassalos. Alguns deles foram mais tarde absorvidos no Império Otomano, enquanto outros foram concedidos vários tipos de autonomia ao longo dos séculos.[7]
Com Constantinopla como sua capital e controle de terras ao redor da bacia do Mediterrâneo, o Império Otomano foi o centro das interações entre os mundos oriental e ocidental por seis séculos. Apesar do declínio do império ser considerado uma consequência da morte de Solimão, esta interpretação não é mais apoiada pela maioria dos historiadores acadêmicos.[8] O império continuou a manter uma economia, sociedade e forças armadas flexíveis e fortes durante o século XVII e boa parte do XVIII. [9] No entanto, durante um longo período de paz de 1740 a 1768, o sistema militar otomano ficou defasado em relação aos de seus rivais europeus, como os impérios Habsburgo e Russo.[10] Consequentemente, os otomanos sofreram severas derrotas militares no final do século XVIII e início do XIX, o que os levou a iniciar um processo abrangente de reforma e modernização conhecido como Tanzimat. Assim, ao longo do século XIX, o Estado otomano tornou-se muito mais poderoso e organizado, apesar de sofrer mais perdas territoriais, especialmente nos Bálcãs, onde surgiram uma série de novos Estados.[11]
Os otomanos aliaram-se ao Império Alemão no início do século XX, com a ambição imperial de recuperar seus territórios perdidos, juntando-se à Tríplice Aliança na Primeira Guerra Mundial. O império foi capaz de se manter em grande parte do conflito global, apesar da Revolta Árabe em seus domínios. Com registros de antes da Primeira Guerra Mundial, mas com maior intensidade durante a guerra, várias atrocidades foram cometidas pelo governo otomano contra armênios, assírios e gregos pônticos.[12] A derrota do império e a ocupação de parte de seu território pelas Potências Aliadas após a Primeira Guerra resultaram na sua divisão e na perda dos seus territórios do Oriente Médio, que foram divididos entre o Reino Unido e a França. A bem sucedida Guerra de Independência Turca contra as potências ocupantes levou ao surgimento da República da Turquia no coração anatoliano e à abolição da monarquia e do califado otomano.[13]
Índice
1 História
1.1 Ascensão do Império Otomano (1299-1453)
1.2 Crescimento (1453-1683)
1.2.1 Expansão e apogeu (1453-1566)
1.2.2 Revoltas e renascimento (1566-1683)
1.3 Estagnação e reforma (1699-1822)
1.4 Declínio e modernização (1822-1908)
1.5 Dissolução (1908-1922)
2 Demografia
2.1 Língua
2.2 Religião
3 Governo
3.1 Forças armadas
4 Subdivisões
5 Economia
6 Cultura
6.1 Arquitetura
7 Ver também
8 Notas
9 Referências
10 Ligações externas
11 Bibliografia
História |
Ascensão do Império Otomano (1299-1453) |
Ver artigos principais: Império Seljúcida, Sultanato de Rum e Queda de Constantinopla
Com o desaparecimento do Sultanato de Rum, por volta de 1300, a Anatólia turca foi dividida em uma colcha de retalhos de estados independentes, os beilhiques. Por volta de 1300, o enfraquecido Império Bizantino havia perdido a maioria de suas províncias na Anatólia para dez beilhiques. Um desses beilhiques eram liderados por Osmã I, filho de Ertogrul, da região de Esquiceir na Anatólia Ocidental. No mito da fundação do império contada em uma história medieval turca conhecida como "O sonho de Osmã", Osmã quando jovem sonhou com a visão de um império que era uma grande árvore cujas raízes se estendiam por três continentes e seus ramos cobriam os céus. Ainda de acordo com o sonho, essa árvore que simbolizava o império de Osmã, alcançava quatro rios com suas raízes, o Tigre, o Eufrates, o Nilo e o Danúbio. Essa árvore fazia sombra em quatro cadeias de montanhas, o Cáucaso o Tauro, o Atlas e os Bálcãs. Osmã I era admirado como um governante forte e dinâmico, muito depois de sua morte, passou a ser um elogio entre os turcos a frase "ele pode ser tão bom como Osmã." Durante seu reino como sultão, Osmã estendeu as fronteiras otomanas até a fronteira do Império Bizantino e estabeleceu um governo formal e cujas instituições iriam mudar drasticamente a vida por todo o império. O governo usou a entidade legal conhecida como millet, na qual minorias étnicas e religiosas podiam lidar seus assuntos independentemente do poder central.
No século após a morte de Osmã I, o domínio otomano começou a se estender sobre o Mediterrâneo Oriental e os Bálcãs. Seu filho, Orcano I capturou a cidade de Bursa em 1324 e a tornou capital do Estado otomano. A queda de Bursa em mãos otomanas significou o fim do domínio bizantino no noroeste da Anatólia. A importante cidade de Salonica foi conquistada aos venezianos em 1387, e a vitória turca na batalha do Cosovo em 1389, efetivamente, marcou o fim do poder sérvio na região, abrindo caminho para a expansão otomana na Europa. A Batalha de Nicópolis em 1396, amplamente considerada como a última cruzada de larga escala da Idade Média, não conseguiu parar o avanço vitorioso dos turco-otomanos. Com a extensão do domínio turco nos Bálcãs, a estratégica conquista de Constantinopla tornou-se um objetivo fundamental. O império controlou quase todas as terras ex-bizantinas que circundavam a cidade, mas os bizantinos foram temporariamente aliviados quando Tamerlão invadiu a Anatólia na Batalha de Ancara em 1402, prendendo o sultão Bajazeto I. A captura de Bajazeto gerou o caos entre os turcos. O Estado entrou em uma guerra civil que durou de 1402 a 1413, com os filhos de Bajazeto lutando pela sucessão. Ela só terminou quando Maomé I, o Cavalheiro emergiu como o sultão e restaurou o poder, pondo fim ao período que ficou conhecido como Interregno otomano.
Parte dos territórios otomanos nos Bálcãs (por exemplo, Tessalônica, a Macedônia e Cosovo) foi temporariamente perdida após 1402, sendo posteriormente recuperada por Murade II entre 1430 e 1450. Seu filho, Maomé II, o Conquistador, reorganizou o Estado e os militares, e demonstrou sua habilidade militar ao capturar Constantinopla em 29 de maio de 1453, com 21 anos de idade.
A cidade se tornou a nova capital do Império Otomano, e Maomé II assumiu o título de Kayser-i Rûm ("César de Roma"). No entanto, este título não foi reconhecido pelos gregos ou pelos europeus ocidentais, e os czares russos passaram então a alegar serem os sucessores do título imperial oriental. Para consolidar a sua aclamação, Maomé II aspirava ter controle sobre a capital ocidental, Roma, e as forças otomanas ocuparam partes da península Itálica, a partir de Otranto e Apúlia, em 28 de julho de 1480. Mas depois da morte de Maomé II, em 3 de maio de 1481, a campanha na Itália foi cancelada e as forças otomanas recuaram.
Crescimento (1453-1683) |
Este período da história otomana pode ser dividido em dois períodos: um de crescimento territorial, econômico e cultural até 1566, depois seguido de um período de relativa estagnação política e militar.
Expansão e apogeu (1453-1566) |
A conquista otomana de Constantinopla consolidou o status do império como uma força em potencial no sudeste da Europa e no Mediterrâneo oriental. Durante este tempo, o Império Otomano entrou em um período de conquistas e expansão ampliando suas fronteiras mais longe na Europa e no norte da África. As conquistas em terra foram orientadas pela disciplina e inovação do exército otomano, e sobre o mar, a marinha otomana ajudou nesta expansão significativamente. A marinha também bloqueou as principais rotas comerciais marítimas, em concorrência com as cidades-estado italianas no mar Negro, mar Egeu e mar Mediterrâneo e com possessões portuguesas no mar Vermelho e oceano Índico. O Estado também prosperou economicamente, graças ao seu controle das rotas de maior tráfego entre a Europa e a Ásia. Este bloqueio sobre o comércio entre a Europa Ocidental e a Ásia é frequentemente citado como um fator primário de motivação para que os reis da Espanha financiassem a viagem de Cristóvão Colombo para encontrar outra rota de navegação para a Ásia.
O império prosperou sob o domínio de uma linha de sultões empenhada e eficaz. O sultão Selim I (1512-1520) expandiu as fronteiras leste e sul do império, derrotando Ismail I do Império Safávida, na Batalha de Chaldiran. Selim I estabeleceu a presença otomana no Egito e criou uma presença naval no mar Vermelho. Após esta expansão otomana, uma competição começou entre o Império Português e o Império Otomano para se tornar a potência dominante na região.
Sucessor de Selim, Solimão I, o Magnífico (1520-1566), alargou ainda mais as fronteiras do império. Após a tomada de Belgrado em 1521,Solimão conquistou o sul e o centro do Reino da Hungria (ao passo que as regiões ocidental, norte e nordeste não foram conquistadas) e estabeleceu o domínio otomano, no território da Hungria atual (exceto parte ocidental) e outros territórios da Europa Central, após sua vitória na Batalha de Mohács em 1526. Ele então liderou o cerco de Viena em 1529, mas não conseguiu tomar a cidade após o início do inverno, forçando sua retirada. Em 1532, outro ataque a Viena com um exército planejado para ter mais de 250.000 homens foi repelido a 97 quilômetros ao sul da cidade, na fortaleza de Güns. Depois de mais avanços pelos otomanos em 1543, o governante Habsburgo Fernando I oficialmente reconheceu a anexação otomana de regiões da Hungria em 1547. Durante o reinado de Solimão, a Transilvânia, a Valáquia e, intermitentemente, a Moldávia, tornaram-se principados do Império Otomano. No leste, os otomanos tomaram Bagdá a partir da Mesopotâmia em 1535, ganhando o controle da Mesopotâmia e acesso naval ao golfo Pérsico. Até o final do reinado de Solimão, a população do império atingiu a marca de cerca de 15.000.000 pessoas.
Sob Selim e Solimão, o império tornou-se uma força naval dominante, controlando grande parte do mar Mediterrâneo. As façanhas do almirante otomano Barba Ruiva, que comandou a marinha otomana durante o reinado de Solimão, conduziu a uma série de vitórias militares sobre as marinhas europeias. Entre estas estavam a conquista aos espanhóis de Túnis e Argélia; a evacuação dos muçulmanos e judeus da Espanha para a segurança das terras otomanas (em particular, Tessalônica, Chipre, e Constantinopla), durante a Inquisição Espanhola e a captura de Nice do Sacro Império Romano Germânico em 1543. Esta última conquista ocorreu em nome da França numa aliança entre as forças do rei francês Francisco I e as de Barba Ruiva. França e o Império Otomano, unidos pela oposição mútua à Monarquia de Habsburgo, na Europa do Sul e na Europa Central, tornaram-se fortes aliados durante este período. A aliança era econômica e militar, como os sultões concederam à França o direito do comércio dentro do império, sem cobrança de impostos. Na verdade, o Império Otomano foi por esse tempo uma parte significativa e aceite da esfera política europeia, e entrou em uma aliança militar com a França, a Inglaterra e a Holanda contra Espanha e o Sacro Império Romano-Germânico (que na época possuía domínio de jure sobre as cidades-estados italianas e a Áustria).
À medida que o século XVI avançava, a superioridade naval Otomana foi desafiada pelo emergente poder marítimo da Europa ocidental, particularmente na costa do atual Marrocos, no golfo Pérsico, no oceano Índico e em ilhas da atual Indonésia, como as ilhas das Especiarias. Com os otomanos bloqueando rotas marítimas para o Oriente e Sul, as potências europeias foram impulsionadas a encontrar outro caminho para a seda e as rotas de especiarias, agora sob o controle otomano. Em terra, o império estava preocupado com as campanhas militares na Áustria e na Pérsia, duas frentes amplamente separadas. A tensão destes conflitos sobre os recursos do império e da logística de manutenção de linhas de abastecimento e comunicação entre essas grandes distâncias, em última instância fez com que seus esforços marítimos se tornassem insustentáveis e sem êxito. A necessidade imperiosa militar para a defesa nas fronteiras ocidentais e orientais do império acabou por tornar impossível o engajamento eficaz a longo prazo da marinha otomana em uma escala global.
Revoltas e renascimento (1566-1683) |
O efetivo militar e as estruturas burocráticas do século passado também ficaram sob tensão durante um período prolongado de governo por sultões fracos. Mas, apesar destas dificuldades, o império manteve-se como uma potência expansionista até a Batalha de Viena em 1683, que marcou o fim da expansão otomana na Europa.
Os estados europeus iniciaram esforços no momento para travar o controle otomano das rotas comerciais terrestres. Estados da Europa Ocidental começaram a contornar o monopólio do comércio otomano, estabelecendo suas próprias rotas navais para a Ásia. Economicamente, o enorme afluxo de prata espanhola do Novo Mundo causou uma forte desvalorização da moeda otomana e inflação galopante. Isto teve graves consequências negativas em todos os níveis da sociedade otomana.
A expansão do Rússia sob Ivan IV (1533-1584) na região do Volga e do mar Cáspio, aonde se localizavam canatos tártaros, interromperam a peregrinação do norte e as rotas comerciais. Um plano muito ambicioso para contrariar isto foi concebido por Sokullu Mehmet Paxá, grão-vizir sob Selim II, na forma de uma ligação entre os rios Volga e Don na forma de um canal (iniciado em junho 1569), combinado com um ataque a Astracã. Porém o plano falhou e o canal foi abandonado com o início do inverno. Doravante, o império voltou a sua atual estratégia de utilizar o Canato da Crimeia como baluarte contra a Rússia.
Após a queima de Moscou em 1571, o Cã da Crimeia Giray I, apoiado pelos otomanos, desenvolveu o plano de conquista total do Estado russo. No ano seguinte, a invasão foi repetida, mas repelida na Batalha de Molodi. O Canato da Crimeia permaneceu como um poder significativo na Europa Oriental e uma ameaça para a Rússia moscovita, em especial até ao final do século XVII.
No sul da Europa, uma coalizão de potências católicas, liderados por Felipe II da Espanha, formaram uma aliança para desafiar as forças navais otomanas no mar Mediterrâneo. Sua vitória sobre a frota otomana na Batalha de Lepanto (1571) foi um golpe surpreendente para a imagem de invencibilidade otomana. No entanto, os historiadores hoje acreditam que o significado da batalha foi simbólico e não estritamente militar, para no prazo de seis meses após a derrota, uma nova frota otomana de cerca de 250 barcos, incluindo oito galeões modernos ter sido construída, com o porto de Constantinopla despejando um novo navio todos os dias na altura da construção. Em discussões com um ministro veneziano, o grão-vizir turco, comentou: "capturando o Chipre de você, cortamos um de seus braços; derrotando a nossa frota você apenas raspou nossas barbas." A recuperação naval otomana persuadiu a República de Veneza a assinar um tratado de paz em 1573, e os otomanos foram capazes de expandir e consolidar a sua posição no norte da África.
Em contrapartida, a fronteira Habsburgo havia se estabelecido em uma das fronteiras mais ou menos permanentes, marcada apenas por batalhas relativamente menores concentrando-se na posse das fortalezas individuais. Este impasse foi causado principalmente pelo desenvolvimento austríaco de baixas fortificações construídas pelos Habsburgo ao longo da fronteira que eram quase impossíveis de capturar sem cercos longos. Os otomanos não tinham resposta para essas novas fortificações no estilo que faziam, o que fez com que a artilharia que anteriormente era utilizada de forma eficaz (como no cerco de Constantinopla) ficasse quase inútil. O impasse foi também um reflexo de simples limites geográficos: na era pré-industrial, Viena marcou o ponto mais distante que um exército otomano poderia marchar desde Constantinopla durante o início da primavera ao final de temporada da campanha em outono. Isso também se reflete nas dificuldades impostas ao império pela necessidade de manter duas frentes distintas: uma contra a Áustria dos Habsburgos, e outro contra um Estado islâmico rival, a Pérsia Safávidas.
No campo de batalha, os otomanos gradualmente caíram atrás dos europeus em tecnologia militar, como a inovação, que alimentou forte expansão do império anteriormente tornou-se sufocada por um crescente conservadorismo religioso e intelectual. Alterações nas táticas militares europeias e em suas armas na revolução militar causou a outrora temida cavalaria Sipahi a perder relevância militar. A "longa guerra" contra a Áustria (1593-1606) criou a necessidade de um maior número de infantaria equipada com armas de fogo. Isto resultou em um relaxamento da política de recrutamento e um crescimento significativo no número de corpos de janízaros. Isso contribuiu para os problemas de indisciplina e rebeldia definitivas nos corpos de janízaros que lutou com o governo e que nunca foram inteiramente resolvidos durante (e depois) este período todo. O aperfeiçoamento e aumento de armas de fogo e o uso de táticas mais lineares pelos europeus mostrou-se mortal contra a infantaria reunida em formação cerrada usado pelos otomanos. Sekbans (mercenários de origem camponesa) também foram recrutados pelos mesmos motivos e na desmobilização viravam-se para o banditismo em revoltas Jelali (1595-1610), que geraram a anarquia generalizada na Anatólia no final do século XVII e início do XVIII. Com a população do império atingindo 30.000.000 de pessoas até 1600, a falta de terra colocava maior pressão sobre o governo.
No entanto, o século XVII não era simplesmente uma época de estagnação e declínio, mas também um período-chave na qual o Estado Otomano e as suas estruturas começaram a se adaptar às novas pressões e novas realidades, interna e externa. O Sultanato de mulheres (1648-1656) foi um período em que a influência política do harém imperial era dominante, como as mães dos sultões jovens exerciam o poder em nome dos seus filhos. Esta não foi uma iniciativa inédita; Hürrem, que se estabeleceu no início de 1530 como a sucessora de Nurbanu, foi descrita pelo veneziano Baylo Andrea Giritti como "uma mulher de extrema bondade, coragem e sabedoria, apesar do fato de que ela frustrava alguns, enquanto outros gratificava". Mas, o destronamento de Ibraim I (1640-1648) devido a sua doença mental e a sua sucessão por Maomé IV em 1646 criou uma crise significativa da regra de que as mulheres dominassem o harém imperial. As mulheres mais proeminentes deste período foram Kösem e sua nora Turhan Hatice, cuja rivalidade política culminou no assassinato de Kösem em 1651.
Este período deu lugar à altamente significativa Era Köprülü (1656-1703), durante o qual o controle efetivo do império era exercido por uma sequência de grão-vizires da família Köprülü. Em 15 de setembro de 1656, o octogenário Mehmed Köprülü aceitou os selos do gabinete tendo recebido garantias de Turhan Hatice de autoridade e liberdade sem precedentes de interferências. Um disciplinador e conservador feroz, ele conseguiu reafirmar a autoridade central e o ímpeto militar do império. Isto continuou sob seu filho e sucessor Köprülü Fazıl (grão-vizir 1661-1676). O vizirado Köprülü viu o sucesso militar se renovando com a autoridade restaurada na Transilvânia, a conquista de Creta concluída em 1669 e a expansão para o sul da Ucrânia, com as fortalezas do Khotin e Kamianets-Podilskyi e o território de Podolia cedendo ao controle otomano, em 1676.
Este período de afirmação renovada chegou a um final desastroso, quando o grão-vizir Kara Mustafá, em maio de 1683 liderou um exército enorme para tentar um segundo cerco otomano de Viena. O ataque final foi fatalmente adiada e as forças otomanas foram varridas na Batalha de Viena.
A Santa Liga favoreceu a derrota em Viena e em quinze anos de guerra culminou no Tratado de Karlowitz (26 de janeiro de 1699) que pôs fim à Grande Guerra Turca e pela primeira vez viu o Império Otomano entregar o controle de importantes territórios europeus (muitos permanentemente), incluindo a Hungria otomana. O império chegou ao fim da sua capacidade de efetivamente realizar uma política expansionista agressiva contra os seus rivais europeus e que era para ser forçado a partir deste ponto a adotar uma estratégia essencialmente defensiva.
Apenas dois sultões neste período exerceram pessoalmente o controle político e militar do império: o vigoroso Murade IV (1612-1640) que recapturou Erevã (1635) e Bagdá (1639) dos safávidas e reafirmando a autoridade central, ainda que durante um breve reinado. Mustafá II (1695-1703) levou o contra-ataque otomano de 1695-6 contra os Habsburgos na Hungria, mas este contra-ataque foi desfeito na desastrosa derrota em Zenta (11 de setembro de 1697).
Estagnação e reforma (1699-1822) |
Durante o período de estagnação muitos territórios otomanos nos Bálcãs foram cedidos à Áustria. Certas áreas do império, como Egito e Argélia, tornaram-se independentes em todos os aspectos e, posteriormente, tornaram-se colônias da Grã-Bretanha e da França, respectivamente. No século XVIII, a autoridade centralizada deu lugar a diferentes graus de autonomia provincial apreciada por governadores e líderes locais. Várias guerras foram travadas entre o Império Russo e o Império Otomano entre os séculos XVIII e XIX.
O longo período de estagnação otomana é tipicamente caracterizado por historiadores como uma época de reformas falhas. Na última parte deste período, houve reformas educacionais e tecnológicas, incluindo a criação de instituições de ensino superior como a Universidade Técnica de Istambul; a ciência e a tecnologia otomana foram altamente respeitadas na época medieval, como resultado da síntese de estudiosos otomanos da aprendizagem clássica com a filosofia islâmica e matemática, e o conhecimento de avanços chineses em tecnologia como a pólvora e a bússola. Neste período, as influências tornaram-se regressivas e conservadoras. As corporações de escritores denunciaram a imprensa como "Invenção do Diabo", e foram responsáveis por uma desfasagem de 43 anos entre a sua reinvenção por Johannes Gutenberg na Europa em 1450 e sua introdução na sociedade otomana com a imprensa em Constantinopla, que foi estabelecida pelos judeus sefarditas emigrados da Espanha em 1493. Os judeus sefarditas haviam migrado para o Império Otomano logo após escaparem da Inquisição Espanhola em 1492.
A Era das Tulipas (ou Lâle Devri em turco), nomeada assim por causa da apreciação da flor tulipa pelo sultão Amade III e seu uso para simbolizar o seu reinado de paz, trouxe mudanças para a política do Império em relação a Europa. A região foi pacífica entre 1718 e 1730, após a vitória Otomana contra a Rússia na Campanha Pruth em 1711 e o Tratado de Passarowitz trouxe um período de pausa na guerra. O império começou a melhorar as fortificações das cidades que faziam fronteira com os países europeus nos Bálcãs agindo como uma defesa contra o expansionismo europeu. Outras reformas preliminares também foram aprovadas: os impostos foram reduzidos, houve tentativas de melhorar a imagem do Estado otomano, e os primeiros exemplos de investimento privado e empreendedorismo ocorreram.
Esforços de reforma militar otomana começam com Selim III (1789-1807) que fez as primeiras tentativas importantes para modernizar as forças armadas otomanas com padrões europeus. Estes esforços, no entanto, foram prejudicados por movimentos reacionários, em parte de lideranças religiosas, mas principalmente a partir do corpo de janízaros, que se tornou anarquista e ineficaz. Invejosos de seus privilégios e firmes opositores às mudanças, eles criaram uma revolta janízara. Os esforços de Selim custaram-lhe o seu trono e sua vida, mas foram resolvidos de forma espetacular e sangrenta pelo seu sucessor, o dinâmico Mamude II, que massacrou o corpo de janízaros em 1826.
Em 1821, os gregos foram os primeiros a declarar guerra ao sultão. Através da rebelião que se originou na Moldávia, e seguido pela revolução no Peloponeso, este último, juntamente com a parte norte do golfo de Corinto se tornaram as primeiras partes do Império Otomano a ser totalmente libertadas em 1829, seguido de Sérvia, Bulgária, Roménia e Montenegro na década de 1870.
Declínio e modernização (1822-1908) |
O declínio otomano (perda de territórios enormes) é tipicamente caracterizado por historiadores como uma era dos tempos modernos. O império perdeu território em todas as frentes, e não houve estabilidade administrativa, devido às avarias do governo centralizado, apesar dos esforços de reforma e reorganização, como a Tanzimat. Durante este período, o império enfrentou desafios ao se defender contra a invasão e ocupação estrangeira. O império deixou de entrar em seus próprios conflitos e começou a forjar alianças com países europeus, como França, Países Baixos, Reino Unido e Rússia. Como exemplo, em 1853 a Guerra da Crimeia, os otomanos se uniram com os britânicos, franceses, e outros contra o Império Russo. A Guerra da Crimeia causou um êxodo dos tártaros da Crimeia. Da população total de 300 000 tártaros da província de Táuride, cerca de 200 000 tártaros da Crimeia mudaram-se para o Império Otomano em ondas contínuas de emigração. No fim da Guerra do Cáucaso muitos circassianos fugiram de suas terras no Cáucaso e se estabeleceram no Império Otomano. Desde o século XIX, um êxodo pela grande parte dos povos muçulmanos (que são chamados de "muhacir" sob uma definição geral) dos Bálcãs, Cáucaso, Crimeia e Creta, refugiou-se na atual Turquia e moldou as características fundamentais do país até hoje.
Durante o período Tanzimat (do árabe Tanzîmât, que significa "reestruturação") (1839-1876), uma série de reformas constitucionais conduziu a um exército bastante moderno, reformas no sistema bancário, e à substituição das guildas por fábricas modernas. Em 1856, o Hatt-ı Humayun prometeu igualdade para todos os cidadãos otomanos independentemente da sua etnia e religião, alargando o âmbito da Hatt 1839 i-serif de Gülhane. Os millets cristãos ganharam privilégios, como na constituição nacional da Armênia (turco otomano: Nizâmnâme Millet-i-i Ermeniyân) de 1863 e a recém-formada assembleia nacional da Armênia.
O período reformista culminou com a constituição, o chamado Kanun-ı esası (que significa "Lei Básica", em turco otomano), escrito por membros do grupo "Jovens Otomanos", que foi promulgada em 23 de novembro de 1876. Ela estabeleceu a liberdade de crença e a igualdade dos cidadãos perante a legislação. A primeira era constitucional do império (ou Birinci Mesrutiyet Devri em turco), teve vida curta, porém, a ideia por trás dele (Otomanismo), mostrou-se influente como um grupo amplo de reformadores conhecido como o jovens otomanos, educados principalmente em universidades ocidentais, acreditava que uma monarquia constitucional seria a solução para dar uma resposta à crescente agitação social do império. Através de um golpe militar em 1876, forçaram o sultão Abdulazize (1861-1876) a abdicar em favor de Murade V. Entanto, Murade V tinha doenças mentais e foi deposto em poucos meses. Seu herdeiro aparente Abdulamide II (1876-1909) foi convidado para assumir o poder sobre a condição de que ele iria declarar uma monarquia constitucional, o que ele fez em 23 de novembro de 1876. No entanto, o parlamento sobreviveu por apenas dois anos. O sultão suspendeu, mas não eliminou o parlamento até que ele foi forçado a reuni-lo. A eficácia do Kanun-ı esası foi depois amplamente minimizada.
A ascensão do nacionalismo varreu vários países durante o século XIX, e o Império Otomano não foi imune. A consciência nacional crescente, juntamente com um crescente sentimento de nacionalismo étnico, fez do pensamento nacionalista uma das ideias ocidentais mais significativas importadas para o Império Otomano, que foi forçado a lidar com o nacionalismo, tanto dentro como fora das suas fronteiras. Houve um aumento significativo no número de partidos políticos revolucionários. Levantes em território otomano tiveram muitas consequências de longo alcance durante o século XIX e determinaram grande parte da política otomana durante o século XX. Muitos turcos otomanos questionavam se as políticas do Estado não eram culpadas. Alguns sentiram que as fontes de conflitos étnicos eram externos e não relacionados a questões de governança. Apesar de esta época os otomanos terem tido alguns sucessos, a capacidade do Estado para ter qualquer efeito sobre revoltas étnicas foi seriamente posta em dúvida. Apoiadas pelo Império Russo, Sérvia e Montenegro declararam guerra ao Império Otomano. Em 1821, a Grécia tornou-se o país primeiro dos Bálcãs a declarar a sua independência do Império Otomano (reconhecido oficialmente pelo império em 1829) após o fim da Guerra da Independência Grega.
As reformas Tanzimat não detiveram a ascensão do nacionalismo nos principados do Danúbio e Sérvia, que haviam sido semi-independentes por quase seis décadas. Em 1875, os principados afluentes da Sérvia, Montenegro e Romênia (que incluem a Valáquia e Moldávia) declararam unilateralmente a sua independência do império, e após a Guerra russo-turca de 1877-1878, a independência foi formalmente concedida a todas as três nações beligerantes. A Bulgária também alcançou a independência (como o Principado da Bulgária), cujos voluntários haviam participado da guerra russo-turca, no lado das nações se rebelando.
O Vilaiete da Bósnia e do Sanjaco de Novi Pazar foram parcialmente ocupados pelas forças do Império Austro-Húngaro na sequência do Congresso de Berlim em 1878, mas permaneceram nominalmente como territórios otomanos (Bósnia e Herzegovina até à crise da Bósnia em 1908, Novi Pazar até à Primeira Guerra Balcânica em 1912), com a presença permanente de soldados otomanos. O Chipre foi alugado para os britânicos em 1878 em troca de favores da Grã-Bretanha, no Congresso de Berlim. O Egito, que já tinha sido ocupado pelas forças de Napoleão I de França em 1798, mas se recuperou em 1801 por um exército otomano-britânico, foi ocupado em 1882 pelas forças britânicas, sob o pretexto de trazer ordem, embora o Egito e Sudão permanecessem como províncias otomanas de jure, até 1914, quando o Império Otomano se juntou à Tríplice Aliança e a Grã-Bretanha anexou oficialmente estas duas províncias e Chipre como resposta. Outras províncias otomanas no norte da África foram perdidas entre 1830 e 1912, a partir da Argélia (ocupada pela França em 1830), Tunísia (ocupada pela França em 1881) e Líbia (ocupada pela Itália em 1912.)
Os armênios, que tiveram a sua constituição própria e assembleia nacional com as reformas Tanzimat, começaram a pressionar o governo otomano para uma maior autonomia após a Guerra russo-turca de 1877-1878 e o Congresso de Berlim em 1878. Um número de levantes armênios ocorreu nas cidades da Anatólia, levando o sultão Abdulamide II a responder a estas rebeliões e ataques, que estabelece os regimentos Hamidiye no leste da Anatólia, formadas principalmente de unidades de cavalaria irregular de curdos recrutados. De 1894-96 algo entre 100.000 a 300.000 armênios que viviam por todo o império foram mortos no que ficou conhecido como o massacre Hamidiano. Militantes armênios tomaram a sede do Banco Otomano em Constantinopla em 1896 para trazer a atenção da Europa para os massacres, mas eles falharam nesse esforço.
Economicamente, o império tinha dificuldade em reembolsar a dívida otomana pública para os bancos europeus, o que causou a criação do Conselho de Administração da Dívida Pública Otomana. Até o final do século XIX, a principal razão do império não ter sido totalmente tomado pelas potências ocidentais vieram da doutrina do equilíbrio de poder. Tanto o Império Austríaco] quanto o Império Russo queriam aumentar suas esferas de influência e território, em detrimento do Império Otomano, mas foram mantidos em xeque principalmente pelo Reino Unido, que temiam o domínio russo na região do Mediterrâneo Oriental.
Dissolução (1908-1922) |
Mais informações: Corte Marcial da Turquia de 1919-20
A segunda era constitucional (turco: İkinci Mesrutiyet Devri) começou após a Revolução dos Jovens Turcos (3 de julho de 1908) com o anúncio do sultão da restauração da Constituição de 1876 e a convocação do parlamento otomano. Ela marca a dissolução do Império Otomano. Esta época é dominada pela política do Comitê de União e Progresso (turco: Ittihad ve Terakki Cemiyeti), e do movimento que viria a ser conhecido como os "Jovens Turcos" (turco: Jon Türkler).
Lucrando com a guerra civil, o Império Austro-Húngaro anexou oficialmente a Bósnia e Herzegovina, em 1908, mas retirou suas tropas do Sanjaco de Novi Pazar, outra região contestada entre os austríacos e otomanos, a fim de evitar uma guerra. Durante a Guerra Ítalo-Turca (1911-1912) em que o Império Otomano perdeu a Líbia, a Liga Balcânica declarou guerra contra o Império Otomano, que perdeu seus territórios dos Bálcãs, exceto a Trácia oriental e a cidade histórica otomana de Edirne (Adrianópolis), com a Guerra dos Bálcãs (1912-1913). Depois, cerca de 400.000 muçulmanos fugiram com o Exército Otomano, por temor de uma eventual perseguição grega, sérvia e búlgara. A Ferrovia Berlim-Bagdá, sob controle alemão, tornou-se uma fonte de tensão internacional e desempenhou um papel nas origens da Primeira Guerra Mundial.
O governo dos Jovens Turcos assinou um tratado secreto, estabelecendo uma aliança otomana com a Alemanha, contra um inimigo em comum: a Rússia, com o alinhamento do império com a Tríplice Aliança. O Império Otomano entrou na Primeira Guerra Mundial, após o incidente Goeben e Breslau, na qual se deu porto seguro para dois navios alemães que estavam fugindo de navios britânicos. Estes navios, em seguida, - depois de terem sido oficialmente transferidos para a marinha otomana, mas efetivamente ainda sob controle alemão - atacaram o porto russo de Sebastopol, arrastando o Império na guerra ao lado das Potências Centrais, na qual tomaram parte no front do Oriente Médio. Houve várias vitórias otomanas importantes nos primeiros anos da guerra, como a Batalha de Gallipoli e no cerco de Kut, mas houve contratempos, bem como a desastrosa campanha do Cáucaso contra os russos.
Em 1915, como o exército russo a avançar na Anatólia Oriental, com a ajuda dos batalhões de voluntários armênios da região do Cáucaso do Império Russo, e ajudado por alguns armênios otomanos, o governo otomano decidiu usar isso como pretexto para começar o seu extermínio de toda a população armênia [carece de fontes]. Através de marchas forçadas e os massacres, os armênios que vivem no leste da Anatólia foram tirados de suas terras natais e enviados para o sul, como as províncias otomanas na Síria e Mesopotâmia. As estimativas sobre o número de mortos durante o Genocídio armênio variam de um milhão de até 1,5 milhões de pessoas.[14] Neste período, o setor financeiro otomano era quase todo dependente de não-islâmicos.[15][16]
A Revolta Árabe, que começou em 1916, virou a maré contra os otomanos na frente do Oriente Médio, onde inicialmente parecia ter a vantagem durante os primeiros dois anos da guerra. Quando o Armistício de Mudros foi assinado em 30 de outubro de 1918, as únicas partes da península Arábica que ainda estavam sob o controle otomano eram o Iêmen, Asir, a cidade de Medina, porções do norte da Síria e partes do norte do Iraque. Esses territórios foram entregues às forças britânicas em 23 de janeiro de 1919. Os otomanos também foram obrigados a evacuar as partes do antigo Império Russo no Cáucaso (hoje Geórgia, Arménia e Azerbaijão), que tinham ganhado no fim da Primeira Guerra Mundial, após a retirada da Rússia da guerra com a Revolução Russa em 1917.
Sob os termos do Tratado de Sèvres, a partilha do Império Otomano foi solidificada. Os novos países criados a partir dos antigos territórios do Império Otomano, atualmente são contados em 40 (incluindo a contestada República Turca de Chipre do Norte). A ocupação de Constantinopla, juntamente com a ocupação de Esmirna mobilizou a criação do movimento nacional turco, que ganhou a guerra de independência turca (1919-1922) sob a liderança de Mustafa Kemal Paxá. A monarquia foi abolida em 1 de novembro de 1922, e o último sultão, Mehmed VI (que reinou de 1918 a 1922), deixou o país em 17 de novembro de 1922. A Turquia como república foi reconhecida internacionalmente com o Tratado de Lausana, em 24 de julho de 1923. A Grande Assembleia Nacional (GAN) da Turquia declarou oficialmente a República da Turquia em 29 de outubro de 1923. O califado foi abolido pela constituição vários meses depois, no dia 3 de março de 1924. O sultão e sua família foram declarados persona non grata na Turquia e exilados. Cinquenta anos depois, em 1974, a GAN concedeu aos descendentes da dinastia otomana o direito de adquirir a cidadania turca.
A queda do Império Otomano pode ser atribuída ao fracasso de sua estrutura econômica, o tamanho do império criou dificuldades na integração de suas regiões economicamente diversas. Além disso, a tecnologia do império de comunicação não era desenvolvida o suficiente para alcançar todos os territórios. Em muitos aspectos, as circunstâncias que rodearam a queda do Império Otomano eram similares àquelas que cercam o declínio do Império Romano, principalmente em termos das tensões entre os diferentes grupos étnicos do império, e a incapacidade dos vários governos para lidar com essas tensões. No caso dos otomanos, a introdução de um aumento dos direitos culturais, das liberdades civis e um sistema parlamentar durante o Tanzimat revelaram-se demasiado tardios para inverter as tendências nacionalistas e separatistas que já se vinham disseminando desde o início do século XIX.
Demografia |
Uma estimativa da população para o império foi de 11.692.480 habitantes para o período entre 1520 e 1535 foi obtida contando os agregados familiares em registos de tithe otomano e multiplicando este número por 5.[17] Por razões pouco claras, a população estimada no século XVIII foi menor do que no século XVI.[18] Uma estimativa de 7.230.660 para o primeiro censo realizado em 1831 é considerada um subcontagem grave, uma vez que este recenseamento foi feito apenas para registrar possíveis conscritos.[17]
Censos de territórios otomanos só começaram no início do século XIX. Os números de 1831 em diante estão disponíveis como resultados oficiais do censo, mas os censos não cobriam a população inteira. Por exemplo, o censo de 1831 apenas contou homens e não cobriu todo o império.[19][17] Para períodos anteriores, as estimativas de tamanho e distribuição da população otomana são baseadas em padrões demográficos observados.[20]
No entanto, a população começou a aumentar até atingir 25-32 milhões em 1800, com cerca de 10 milhões nas províncias europeias (principalmente os Bálcãs), 11 milhões nas províncias asiáticas e cerca de 3 milhões nas províncias africanas. As densidades populacionais eram mais elevadas nas províncias europeias, o dobro daquelas da Anatólia, que por sua vez eram o triplo da densidade populacional do Iraque e da Síria e cinco vezes a densidade populacional da Arábia.[21]
No fim da existência do império, a expectativa de vida era de 49 anos, em comparação aos 20 anos na Sérvia no início do século XIX.[22] As doenças epidémicas e a fome causaram grandes perturbações e alterações demográficas. Em 1785, cerca de um sexto da população egípcia morreu de peste e Aleppo viu sua população reduzida em 20% no século XVIII. Seis crises de fome atingiram o Egito entre 1687 e 1731 e a última que atingiu a Anatólia ocorreu quatro décadas mais tarde.[23]
O surgimento de cidades portuárias criou agrupamentos de populações causados pelo desenvolvimento de navios a vapor e ferrovias. A urbanização aumentou entre 1700 e 1922, com cidades crescendo fortemente. Cidades portuárias como Salónica, na Grécia, viram a sua população aumentar de 55.000 em 1800 para 160.000 em 1912 e İzmir, que tinha uma população de 150.000 em 1800, cresceu para 300.000 em 1914.[24][25] Algumas regiões, por outro lado, tiveram queda populacional - Belgrado viu a sua população cair de 25.000 para 8.000 principalmente devido a conflitos políticos.[24]
As migrações econômicas e políticas tiveram impacto em todo o império. Por exemplo, a anexação pelo Império Russo e Áustria-Habsburgo das regiões da Crimeia e dos Bálcãs registrou, respectivamente, grandes afluxos de refugiados muçulmanos - 200.000 tártaros da Crimeia que fugiram para Dobruja.[26] Entre 1783 e 1913, cerca de 5 a 7 milhões de refugiados inundaram o Império Otomano, dos quais pelo menos 3,8 milhões eram da Rússia. Algumas migrações deixaram marcas indeléveis, como tensão política entre partes do império (por exemplo, Turquia e Bulgária), enquanto que efeitos centrífugos foram observados em outros territórios. As economias também foram afetadas pela perda de artesãos, comerciantes, fabricantes e agricultores.[27] Desde o século XIX, uma grande proporção de povos muçulmanos dos Bálcãs emigrou para a atual Turquia. Estas pessoas são chamadas de Muhacir.[28] Quando o Império Otomano chegou ao fim em 1922, metade da população urbana da Turquia descendia dos refugiados muçulmanos da Rússia.[29]
Língua |
O turco otomano era a língua oficial do Império. Era uma língua turcomana oguz altamente influenciada pelo persa e pelo árabe. Os otomanos tinham várias línguas influentes: o turco, falado pela maioria das pessoas na Anatólia e pela maioria dos muçulmanos dos Bálcãs, exceto na Albânia e na Bósnia; o árabe, falado principalmente na Arábia, no Norte da África, no Iraque, no Kuwait, no Levante e em partes do Chifre da África; e o somali em todo o Chifre da África. Nos últimos dois séculos, o uso destes se tornou limitado, porém o persa serviu principalmente como uma língua literária na educação, enquanto o árabe era usado para ritos religiosos.[30]
O turco, em sua variação otomana, era uma linguagem militar e administrativa desde os primeiros dias do império. A constituição otomana de 1876 cimentou oficialmente o estatuto imperial oficial do turco.[31]
Devido a uma baixa taxa de alfabetização entre a população (cerca de 2-3% até o início do século XIX e apenas cerca de 15% no final do XIX), as pessoas comuns tinham que contratar escritores (Arzuhâlcis) para poder se comunicar com o governo. Os grupos étnicos continuaram a falar dentro de suas famílias e bairros (mahalles) com suas próprias línguas (por exemplo, judeus, gregos, armênios, curdos, etc). Nas aldeias onde duas ou mais populações viviam juntas, os habitantes costumavam falar a língua uns dos outros. Nas cidades cosmopolitas, as pessoas frequentemente falavam suas línguas familiares; muitos dos que não eram turcos étnicos falavam turco como segunda língua.[32]
Religião |
Ver artigo principal: Religião no Império Otomano
No sistema imperial otomano, embora existisse um poder hegemônico do controle muçulmano sobre as populações não-muçulmanas, as comunidades não-muçulmanas eram reconhecidas e protegidas pelo Estado na tradição islâmica.[33] A religião oficialmente aceito Dīn (Madh'hab) dos Otomanos era o sunismo (hanafismo).[34]
Até a segunda metade do século XV o império tinha uma maioria cristã, sob o domínio de uma minoria muçulmana.[35] No final do século XIX, a população não-muçulmana do império começou a cair consideravelmente, não só devido à secessão, mas também por causa dos movimentos migratórios. A proporção de muçulmanos ascendeu a 60% na década de 1820, aumentando gradualmente para 69% na década de 1870 e depois para 76% na década de 1890. Em 1914, apenas 19,1% da população do império era não-muçulmana, em sua maioria composta por cristãos gregos, assírios, armênios e judeus.[33]
Governo |
Antes das reformas dos séculos XIX e XX, a organização estatal do Império Otomano era um sistema que tinha duas dimensões principais, que eram a administração militar e a administração civil. O sultão era a posição mais alta no sistema. O sistema civil baseava-se em unidades administrativas locais com base nas características da região. Os otomanos praticavam um sistema em que o Estado (como no Império Bizantino) tinha controle sobre o clero. Certas tradições pré-islâmicas turcas que haviam sobrevivido à adoção de práticas administrativas e legais do Irã islâmico permaneceram importantes nos círculos administrativos otomanos.[36] De acordo com a compreensão otomana, a responsabilidade primária do Estado era defender e estender a terra dos muçulmanos e assegurar segurança e harmonia dentro de suas fronteiras dentro do contexto abrangente da prática islâmica ortodoxa e da soberania dinástica.[37]
O Império Otomano ou, como uma instituição dinástica, a Casa de Osmã, foi sem precedentes e inigualável no mundo islâmico por seu tamanho e duração.[38] Na Europa, apenas a Casa de Habsburgo tinha uma linha igualmente ininterrupta de soberanos (reis/imperadores) da mesma família que governou por tanto tempo e durante o mesmo período, entre o final do século XIII e início do XX. A dinastia otomana era de origem turca. Em onze ocasiões, o sultão foi deposto (substituído por outro sultão da dinastia otomana, que era o irmão, filho ou sobrinho do sultão anterior) porque era percebido por seus inimigos como uma ameaça ao Estado. Houve apenas duas tentativas na história otomana de derrubar a dinastia dominante, ambas falhas, o que sugere um sistema político que por um período prolongado foi capaz de gerir as suas revoluções sem instabilidade desnecessária.[37] Como tal, o último sultão otomano Mehmed VI (1918-1922) era um descendente patrilinear (masculino) do primeiro sultão otomano Osmã I (d 1323/4), ao sem paralelo na Europa (a linhagem masculina da Casa de Habsburgo se extinguiu em 1740) e no mundo islâmico. O propósito principal do Harém Imperial era assegurar o nascimento de herdeiros do sexo masculino ao trono otomano e assegurar a continuação da descendência patrilinear direta (descendência masculina) dos sultões otomanos.
A posição a mais elevada no islã, o califado, foi reivindicada pelos sultões desde Murade I,[39] e foi estabelecida como o Califado Otomano. O sultão otomano, pâdişâh ou "senhor dos reis", servia como o único regente do Império e era considerado a encarnação de seu governo, embora ele nem sempre exercesse o controle completo. O Harém Imperial era um dos poderes mais importantes da corte otomana. Foi governado pelo Sultão Valide. De vez em quando, o Sultão Valide se envolvia na política estadual. Por um tempo, as mulheres do Harém efetivamente controlaram o estado no que foi chamado de "Sultanato das Mulheres". Novos sultões eram sempre escolhidos entre os filhos do sultão anterior. O sistema educacional forte da escola do palácio era orientado para eliminar os herdeiros potenciais impróprios e estabelecer apoio entre a elite governante para um sucessor. As escolas do palácio, que também educava os futuros administradores do Estado, não eram composta por um único estágio. Primeiro, a Madraçal (turco otomano: Medrese) era designada para os muçulmanos e educava estudiosos e funcionários do Estado de acordo com a tradição islâmica. O fardo financeiro da Madraçal era apoiado por vakifs, permitindo que as crianças de famílias pobres ascendessem para níveis sociais e de renda mais elevados.[40] O segundo estágio era um internato gratuito para cristãos, o Enderûn,[41] que recrutava 3.000 meninos cristãos entre oito e 20 anos todos os anos das 40 famílias entre as comunidades estabelecidas na Rumélia ou nos Bálcãs, um processo conhecido Como Devshirme (Devşirme).[42]
Forças armadas |
Ver artigos principais: Exército otomano e Forças de aviação do Império Otomano
A primeira unidade militar do Estado otomano foi um exército que fosse organizado por Osmã I formado por homens de tribos que habitavam os montes de Anatólia ocidental no século XIII. O sistema militar se tornou uma organização intrincada a avanço do Império. O exército otomano era um sistema complexo de recrutamento e de feudo. O corpo principal do exército otomano incluía janízaros, sipahis, akınjis e mehterân. O exército otomano era uma das mais avançadas forças de combate no mundo, sendo um dos primeiros a usar mosquetes e canhões. Os turcos otomanos começaram a usar falconetes, que eram canhões curtos, mas largos, durante o Cerco de Constantinopla. A cavalaria otomana dependia da alta velocidade e mobilidade em vez de armadura pesada, usando arcos e espadas curtas em cavalos turcomanos e árabes velozes (progenitores dos cavalo de corrida puro-sangue),[43][44] sendo que muitas vezes aplicava táticas semelhantes às do Império Mongol, como fingir um recuo para cercar as forças inimigas dentro de uma formação em forma de crescente e, em seguida, fazer o verdadeiro ataque. O exército otomano continuou a ser uma força de combate eficaz ao longo dos séculos XVII e início do século XVIII,[45] ficando atrás de seus rivais europeus apenas durante um longo período de paz de 1740 a 1768.[10]
A Marinha Otomana contribuiu amplamente para a expansão dos territórios do Império no continente europeu, como a conquista do Norte da África, com a adição da Argélia e do Egito ao Império Otomano em 1517. Com a perda da Grécia em 1821 e da Argélia em 1830, o poder naval otomano e o controle sobre os distantes territórios ultramarinos do Império começaram a declinar. O sultão Abdulazize (reinado 1861-1876) tentou restabelecer uma forte marinha otomana, construindo a maior frota depois das do Reino Unido e da França. O estaleiro de Barrow, na Inglaterra, construiu seu primeiro submarino em 1886 para o Império Otomano.[46]
O estabelecimento da aviação militar otomana remonta a entre junho de 1909 e julho de 1911. O Império Otomano começou a preparar seus primeiros pilotos e aviões e com a fundação da Escola de Aviação (Tayyare Mektebi) em Yeşilköy em 3 de julho de 1912, o Império começou a treinar seus próprios oficiais de voo. A fundação da Escola de Aviação acelerou o avanço no programa de aviação militar, aumentou o número de pessoas alistadas dentro dela e deu aos novos pilotos um papel ativo no Exército e Marinha Otomanos. Em maio de 1913, o primeiro programa especializado do treinamento do reconhecimento do mundo começou na escola. Em junho de 1914 uma nova academia militar, a escola naval da aviação (Bahriye Tayyare Mektebi) foi fundada. Com o início da Primeira Guerra Mundial, o processo de modernização parou abruptamente. Os esquadrões de aviação otomanos lutaram em muitas frentes durante a Primeira Guerra Mundial, desde a Galiza no oeste até o Cáucaso no leste e o Iêmen no sul.[47][48]
Subdivisões |
Ver artigo principal: Subdivisões do Império Otomano
O Império Otomano era primeiro subdividido em províncias, no sentido de unidades territoriais fixas com governadores nomeados pelo sultão, no final do século XIV.[49]
O eialete (também Paxalique (Pashalik) ou Beilerbeilique (Beylerbeylik)) era o território do escritório de um Beilerbei e foi subdividido mais adiante em sanjacos.[50]
Os vilaietes foram introduzidos com a promulgação da "Lei Vilaiete" (em turco: Teskil-i Vilayet Nizamnamesi)[51] em 1864, como parte das reformas Tanzimat.[52] Ao contrário do sistema de eialete anterior, a lei de 1864 estabeleceu uma hierarquia de unidades administrativas: o vilaiete, liva/sanjaco, kaza e conselho de aldeia, aos quais a Lei Vilaiete de 1871 acrescentou o nabiye.[53]
Economia |
O governo otomano prosseguiu deliberadamente uma política para o desenvolvimento de Bursa, Edirne e Istambul, as sucessivas capitais otomanas, em grandes centros comerciais e industriais, considerando que comerciantes e artesãos eram indispensáveis na criação de uma nova metrópole.[54] Para este fim, Maomé II e seu sucessor Bajazeto II, também encorajou e acolheu a migração dos judeus de diferentes partes da Europa, que se estabeleceram em Istambul e outras cidades portuárias como Salônica. Em muitos lugares na Europa, os judeus estavam sofrendo perseguição nas mãos de seus homólogos cristãos, como em Espanha após a conclusão da Reconquista. A tolerância exibida pelos turcos foi bem recebida pelos imigrantes.
A mente econômica otomana estava intimamente relacionada com os conceitos básicos do Estado e da sociedade no Oriente Médio, onde o objetivo final de um Estado era a consolidação e a extensão do poder do governante, sendo que a maneira de alcançá-lo era obter recursos ao tornar prósperas as classes produtivas.[55] O objetivo final era aumentar as receitas do Estado sem prejudicar a prosperidade dos indivíduos para evitar o surgimento da desordem social e manter a organização tradicional da sociedade intacta. A economia otomana se expandiu muito durante a Era Moderna, com taxas de crescimento particularmente altas durante a primeira metade do século XVIII. A renda anual do império quadruplicou entre 1523 e 1748, ajustada pela inflação.[56]
A organização do tesouro e da chancelaria foi desenvolvida sob o Império Otomano mais do que qualquer outro governo islâmico e, até o século XVII, eles eram a organização líder entre todos os seus contemporâneos. [130] Esta organização desenvolveu uma burocracia de escribas como um grupo distinto, os ulemás, que se transformaram em um corpo profissional.[57] A eficácia deste corpo financeiro profissional está por trás do sucesso de muitos dos grandes estadistas otomanos.[58]
Estudos otomanos modernos indicam que a mudança nas relações entre os turcos otomanos e a Europa Central foi causada pela abertura das novas rotas marítimas. É possível ver o declínio na importância das rotas terrestres para o Leste conforme a Europa Ocidental abriu as rotas oceânicas que contornaram o Oriente Médio e o Mediterrâneo como paralelo ao declínio do próprio Império Otomano.[59] O Tratado Anglo-Otomano, também conhecido como o Tratado de Balta Liman, que abriu os mercados otomanos diretamente a concorrentes ingleses e franceses, seria visto como um dos pontos de parada deste longo período de desenvolvimento.
Ao desenvolver rotas e centros comerciais, incentivando as pessoas a estender a área de terra cultivada no país, e o comércio internacional através de seus domínios, o Estado otomano desempenhou funções económicas básicas no Império. Mas, em tudo isso, os interesses financeiros e políticos do Estado eram dominantes. Dentro do sistema social e político otomano não eram vistas as dinâmicas e princípios das economias capitalistas e mercantis que se desenvolvem na Europa Ocidental.[60]
Cultura |
Os otomanos absorveram algumas das tradições, artes e instituições das culturas nas regiões que conquistaram e acrescentou novas dimensões. Várias tradições e traços culturais de impérios anteriores (em campos como arquitetura, gastronomia, música, lazer e governo) foram adotados pelos turcos otomanos, que os elaboraram em novas formas, o que resultou em uma nova e distinta identidade cultural otomana. Apesar das novas incorporações, a dinastia otomana, como seus predecessores no Sultanato de Rum e no Império Seljúcida, eram tinham cultura, linguagem, hábitos e costumes persas e, portanto, o império era descrito como um império persa.[61][62][63][64] Os casamentos interculturais também desempenhavam o seu papel na criação da cultura elitista otomana. Quando comparada com a cultura popular turca, a influência dessas novas culturas na criação da cultura da elite otomana era clara.
A escravidão era uma parte da sociedade otomana,[65] sendo que a maioria dos escravos eram empregados como trabalhadores domésticos (ver: Escravidão branca). A escravidão agrícola, como a que se difundiu na América, era relativamente rara. Ao contrário dos sistemas de escravidão, os escravos sob a lei islâmica não eram considerados bens móveis, mas mantinham direitos básicos, embora limitados. Isso lhes proporcionou algum grau de proteção contra abusos.[66] As escravas ainda eram vendidas no Império em 1908.[67] Durante o século XIX, o império recebeu pressão de países europeus ocidentais para proibir a prática. As políticas desenvolvidas por vários sultões durante todo o século XIX tentaram restringir o comércio de escravo mas, como a prática tinha séculos da sustentação religiosa, ela nunca foi abolida diretamente.
A peste continuou sendo um grande evento na sociedade otomana até o século XIX. "Entre 1701 e 1750, 37 epidemias de pragas maiores e menores foram registradas em Istambul, e 31 entre 1751 e 1801".[68]
Arquitetura |
Ver artigo principal: Arquitetura otomana
A arquitetura otomana foi influenciada pelas arquiteturas persa, greco-bizantina e islâmica. Durante a Ascensão do Império, o primeiro período de arquitetura otomana, a arte local estava em busca de novas ideias. O período de crescimento do Império se tornou o período clássico da arquitetura, quando a arte otomana estava mais confiante. Durante os anos do período da estagnação, a arquitetura do otomano afastou-se deste estilo, entretanto.
Durante a Era das Tulipas, teve influência dos estilos altamente ornamentados da Europa Ocidental; barroco, rococó, imperial e outros estilos entrelaçados. Os conceitos da arquitetura otomana circundam principalmente a mesquita, que era parte integrante da sociedade, do urbanismo e da vida comunitária. Além da mesquita, também é possível encontrar bons exemplos da arquitetura otomana em cozinhas, escolas teológicas, hospitais, banhos turcos e túmulos.
Exemplos da arquitetura otomana do período clássico, além de Istambul e Edirne, também podem ser vistos no Egito, na Eritreia, na Tunísia, na Argélia, nos Bálcãs e na Romênia, onde foram construídas mesquitas, pontes, fontes e escolas. A arte otomana desenvolveu-se através de uma multidão de influências devido à ampla gama étnica do Império Otomano. O maior dos artistas da corte enriqueceu o Império Otomano com muitas influências artísticas pluralistas: como misturar a arte bizantina tradicional com elementos da arte chinesa.[69]
Ver também |
- História da Turquia
- Neo-otomanismo
Notas |
↑ O sultão de 1512 a 1520.
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Ligações externas |
- Turquia na Ásia
Bibliografia |
- İnalcık, Halil. The Ottoman Empire : The Classical Age, 1300-1600. New York : Praeger Publishers, 1973.